quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O camino do sindicalismo

Aluno: Bruno Turma: 81


O caminho do sindicalismo do esplendor á crise

Os movimentos de trabalhadores andam historicamente em contra ciclo com os momentos industrialmente marcantes ou de outra forma, por cada momento de acção do capitalismo corresponde um momento de reacção por parte dos sindicatos sendo que têm a particularidade de em cada novo ciclo a acção do capital ser mais forte e a reacção do movimento sindical mais fraca, até ao marasmo que os movimentos de defesa dos trabalhadores estão hoje.

Sabendo que estou a usar um chavão, acho que é importante e até necessário que se conheça o nosso passado para saber onde estamos e podermos projectar um futuro. Numa época de mudança no nosso movimento sindical, umas forçadas, outras devido ao curso natural da história é importante sabermos como chegámos até aqui.

Este texto é composto de várias partes não ordenadas temporalmente. Pretendo focar vários temas que embora relacionados e possíveis de ocorrer no mesmo tempo representam estágios diferentes. O texto começa no ano de 1830, com o início da internacionalização da luta dos trabalhadores.

O inicio da internacionalização da luta dos trabalhadores

É por volta de 1830 que os trabalhadores, especialmente os europeus começam a tomar consciência da sua situação de assalariados e explorados e nasce a sua consciência de classe. Esta tomada de consciência aparece ou é acompanhada de uma agitação crescente onde também já fazem parte algumas manifestações públicas e as primeiras revindicações sociais e politicas. Estas primeiras manifestações de consciência de classe surgem em Lion e são como que um sentido orientador para as tentativas de internacionalização da luta dos trabalhadores que se seguiram.

Não se pense que o conceito das internacionais tem início em Karl Marx e Friederich Engels. Os primeiros passos na luta revolucionária foram dados num país propício a ser um laboratório de experiências sociais, a Bélgica, cuja formação enquanto país remonta a 1830. A Bélgica de então vivia um forte crescimento industrial e uma diversidade enorme de pessoas e condições sociais exactamente devido ao crescimento aí verificado. È neste cenário que nasce Sociedade de Fraternização que lança o primeiro jornal virado para os trabalhadores, neste caso os Flamengos, "O amigo sincero dos Trabalhadores". Este movimento é visto por muita gente como o primeiro passo para a internacionalização das lutas já que esta experiência Belga é baseada em várias outras, especialmente inglesas, o berço do 1º revolução industrial. Mas é em Junho de 1836 em Londres nasce a London Working Men Association e com ela o primeiro grupo político de consciência revolucionária e que verdadeiramente dá a luta revolucionaria o caracter internacionalista que ela necessitava. Este carácter é reforçado pelo manifesto Working Men Association destinado aos trabalhadores Polacos.

Já nessa altura, 24 de Outubro de 1871 esta associação de Trabalhadores declarava as questões ligadas ao trabalho não como um problema local ou nacional mas sim social,"That the emancipation of labor is neither a local nor a national, but a social problem..."E mais consideravam a luta dos trabalhadores e a sua emancipação económica como um imperativo político "That the economical subjection of the man of labor to the monopolizer of the means of labor - that is, the source of life - lies at the bottom of servitude in all its forms, of all social misery, mental degradation, and political dependence;

That the economical emancipation of the working classes is therefore the great end to which every political movement ought to be subordinate as a means".

Exactamente aquilo que o movimento sindical perdeu ao longo de cerca de 150 anos. A interacção entre o social e politico como forma de revindicação. Existiram é facto condições para que assim acontecesse, e daí eu atrás referir que a luta anti-capital foi uma luta de acção/reacção em que o capital aprendeu sempre algo após cada embate e o usasse. O sindicalismo, esse, ficou, utilizando uma expressão do boxe, cada vez mais encostado ás cordas.

Neste período pré e imediatamente pós Marxista houve outros factores dos quais destaco dois pela importância que têm e pela repetição que sofrem na história com outros protagonistas. Em 1º lugar a divisão existente entre os diversos grupos, de pensamento divergente no seio do movimento anti-capitalista e que mais do que uma frente de combate para fora consumiam-se em lutas e guerrilhas uns contra os outros. São aliás conhecidas as zangas e desaguisados que Marx frequentemente provocava nas publicações onde escrevia. O outro factor que penso que seja de ressalvar é a oposição feroz que os pensadores Saint-Simonistas faziam ás teses social-libertadoras de então. Então, como hoje, o capital já tinha percebido a importância dos fazedores de opinião, não na escala actual devido a expansão dos media, mas numa escala reduzida, para uma pequena burguesia emergente.

Muito se passou na luta sindical desde 1870 até á fase Fordista onde vamos parar a seguir, pois penso que será mais útil focalizar-mos a interpretação dos factos aos grandes momentos da história. Poderíamos comparar estes momentos a uma erupção vulcânica que tem o seu "boom" e depois é seguido de réplicas de intensidade variável mas que também provocam estragos. Até ao "boom" seguinte.

Uma nota previa a descrição seguinte. Os exemplos que vão ser referidos são Americanos e é sabido que o Fordismo foi aplicado de formas ligeiramente diferentes nos EUA e Europa e como tal também com realidades sociais e politicas diferentes. No entanto a experiência sindical norte-americano demonstra bem o caminho geral que o sindicalismo mundial leva a partir de então.

O Fordismo como já atrás foi referido dependia de uma grande massa de trabalhadores para a execução das tarefas rotineiras que lhes era destinada. Ora o Fordismo rapidamente percebeu que tal situação facilitava aos sindicatos pois era propícia a um aumento do poder de classe. A primeira medida para eliminar tal possibilidade foi o direccionar ataques ao movimento sindical sob o argumento do "aparelhamento Comunista" dos sindicatos.

Com a lei Wagner de 1933 os sindicatos haviam adquirido o poder da negociação colectiva mas no auge da Histeria Macarthista os sindicatos sucumbiram á lei Taft-Hartley em 1947. No entanto esta "derrota" não retirou tudo aos sindicatos. Estes mantiveram um relativo poder nas indústrias de produção de massa mas tal como foi referido atrás este poder deixou de ser um poder nas questões politica para passar a ser um poder nas questões meramente sociais. Como é fácil de reparar o sindicalismo que nasceu no sec XIX e que tinha as vertentes sociais e politica já deixava pelo caminho um dos seus pilares fundamentais.

A Lei Wagner basicamente consistia na criação de regulamentação de uma série de institutos e formas de organização cuja missão é basicamente a mesma só que para diferentes ramos: ajudar os investigadores de trabalho a achar trabalhos e formas de trabalho e empregadores achando os trabalhadores qualificados. Regulou também os planos de formação quer ao nível de frequência quer ao nível da duração anual. Os serviços oferecidos aos empregadores, para além de indicações de investigadores de trabalho para criação de locais de trabalho, incluem ajuda em desenvolvimento, ajuda aos empregadores com necessidades de recrutamento especiais, organizando Feiras de Trabalho. São também os institutos regulamentados por esta lei que vão ajudar na formação e requalificação de trabalhadores quando o seu "tempo" num dado posto de trabalho chega ao fim.

Para termos uma ideia desta lei posso dizer que as primeiras comissões de higiene e segurança no trabalho são criadas pelos sindicatos juntamente com as identidades patronais ao abrigo desta lei.

Em 1948 e já em plena época neoliberal esta lei sofre uma emenda e é alterada substancialmente a letra da lei e a esvazia das suas funções sociais. Mas na realidade esta lei já era quase letra morta pois a lei Taft-Hartley em 1947 já tinha na realidade anulado grande parte do acordo laboral anterior. A grande novidade desta lei é no entanto a limitação do direito a greve e a outros direitos dos trabalhadores como o da limitação do direito de associação.

É minha opinião que esta lei de 47 deve ser enquadrada para não parecer que apenas mais uma lei capitalista. O Fordismo priveligiava a produção para consumo interno. No período antes da 2ª Guerra Mundial os EUA já produziam excedentes enormes e era com esses excedentes que inundavam o mercado Europeu incorporando o continente europeu no sistema Fordista. Ora em 1947 a Europa estava em plena Guerra e o consumo claramente diminuiu, como é normal, da mesma forma que o consumo de material de guerra aumentou no mundo todo. Tudo isto provocou grandes alterações do outro lado do Atlântico pois empresas tiveram de ser reconvertidas pois não eram viáveis nos produtos que produziam, outras tiveram de despedir empregados e outras ainda pura e simplesmente fecharam. Neste contexto a lei de 33 era um empecilho que urgia eliminar. Mais que isso, era importante eliminar a nascença os focos de contestação que a população trabalhadora poderia iniciar.

Pondo as questões de outra forma, é nesta altura que se dá verdadeiramente o início da precarização das relações laborais. O inicio das subcontratações, dos vínculos precários, o inicio do fim das regalias sociais.

Para nos situar no tempo estamos na América no início da década de 50. Inicio também da era neoliberal. Na Europa por outro lado estamos a começar a era social liberal do pó guerra. Um mundo a dois tempos que não serve os interesses do capital. Esse mundo a dois tempos iria acabar com a 3ª revolução industrial e irá ter a sua unificação com o fim do estado social europeu no fim do século.

Como saíram os sindicatos de mais este "boom"? Como já vimos atrás nos EUA os sindicatos perderam a sua capacidade politica e ficaram apenas com a vertente social. Mesmo essa foi sendo esvaziada ao longo do tempo pelo que no início dos anos 80 os sindicatos americanos eram algo muito facilmente confundível com associações patronais. Na Europa e como será fácil de adivinhar pelo atrás descrito a situação era diferente pois o continente devastado do pó guerra apostou numa politica de cariz aparentemente social. Mas será que os sindicatos se fortaleceram nesta situação? É meu entendimento que não. Envolto no clima do pó guerra e das políticas o sindicatos de referência europeus em muitos casos social democratizaram-se. Ao contrário do exemplo americano onde os sindicatos foram reprimidos, na Europa o sindicalismo foi em muitos casos absorvido e onde debaixo de uma capa de influência politica foram entrando no jogo do poder e das classes dominantes. Devido á conjuntura a meu ver, os sindicatos europeus tiveram o mesmo destino dos americanos. Ao deixarem de ser diferença politicamente apenas continuaram a ter influência social e mesmo essa era regulada/influenciada pelo que o estado achava ser a linha correcta.

Outro factor de grande influencia no sindicalismo europeu foi mais uma vez e a exemplo do que já se tinha passado em 1870 a guerra interna nas esquerdas que de uma forma geral continuaram a perder mais tempo em se afirmarem no seu espaço que a combater e conquistar o espaço ao capital.

Chegamos a ¾ do sec XX e o que nos resta de que originalmente foi concebido para ser a arma de uma luta de classes que previa a emancipação da classe trabalhadora e a conquista do poder. Restava ao movimento dos trabalhadores a sua vertente social com especial concentração na agitação que deveria obrigar o poder Politico a reflectir e a mudar. Tarefa difícil, essa, quando a Influencia politica é nula e a consciência de classe é algo á muito esquecido.

Toyotismo, apenas laboral ou estrutura social

Confesso que esta parte me custou a escrever. Não sabia por onde começar tal a quantidade de factores que estão interligados. Até pensei em mudar o título. Será que tudo isto é toyotismo? Ou será que isto é educação? Ou será que é imigração? Ou ainda movimentos sociais? Ainda não sei mas como o objectivo final destas linhas é fazer debate sobre movimento sindical e as suas na resposta a crescente precarierização das relações laborais vou deixar o título assim e vou iniciar a minha divagação.

Como já atrás foi referido o Toyotismo nasce numa situação social, demográfica e cultural específica. O Japão do meio do século XX é uma sociedade do "nós" e não do "eu". É uma sociedade que vê na solidariedade social um factor de mais valia. Exactamente o contrário do que se assiste hoje. É esta contradição de fundo que a meu ver explica em grande medida o actual estádio das coisas. É uma forma simplista de ver as coisas, é correcto, mas é no entanto uma enorme diferença. Se calhar é a diferença que marca uma esquerda política e social em antítese ao neoliberalismo. É esta diferença que me vou propor a explicar se calhar de uma forma confusa pois a ideia de escrever sobre este tema nasce exactamente das ideias pouco claras que existem.

O que é o Toyotismo?

O Toyotismo é um conjunto de conceitos variados que compõem uma nebulosa. Não é por isso definir Toyotismo por si só. A grande e principal invenção do Toyotismo é simultaneamente a sua grande diferença em relação ao Fordismo, o trabalho em equipa.

A figura a seguir tenta demonstrar a graficamente o que é este sistema.

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Logicamente que o acima representado não é todo o toyotismo mas penso que representa as grandes linhas orientadoras. O que me proponho agora é tentar explicar alguns dos conceitos mais emblemáticos em pormenor de modo a que mais facilmente possam ser entendidos bem como o Toyotismo no seu todo.

Colaborador
O elemento fundamental na teoria Toyotista

A primeira e talvez a alteração ideológica mais profunda do Toyotismo é a substituição do conceito de trabalhador pelo conceito de colaborador. Mais que uma alteração de semântica é um corte ideológico que inicia a grande viragem dos conceitos e da relação de forças. Durante toda a época industrial até meio do Sec.XX via e definia o Homem como sendo apenas e só uma força de trabalho, tese essa, bem visível na teoria fordista da produção de massa para as massas. O papel passivo deste elo da corrente produtiva não só era apregoado como incentivado. O "eu" consumidor era uno com o "eu" trabalhador e não oferecia nenhum tipo de contradição. O trabalhador era por assim dizer mais um equipamento. Aliás esta noção de Trabalhador/ Equipamento e a diferença para o Colaborador / Equipamento ira ficar mais clara mais a frente aquando da explicação do processo KAIZEN. O colaborador por sua vez aparece como sendo parte de algo - não deixando de ser equipamento - que serve os interesses de todos. O colaborador Toyotista é parte da unidade industrial, que veste a camisola e contribui activamente para o "bem-estar" de todos.

É com base nesta alteração que o sistema Toyotista se começa a desenvolver e é aqui que cria as bases para todos os outros processos, uns inventados outros re-inventados.

KAIZEN
Uma Filosofia de trabalho e de empresa

O que significa KAIZEN? KAI significa mudança e ZEN significa bom ou para melhor e o significado destas palavras juntas é o de melhoria continua e que é considerada por muitos teóricos como uma atitude ou forma de vida.

A primeira grande diferença para com os sistemas anteriores é o facto de enquanto as anteriores filosofias implicavam uma estratificação vertical e estanque em pirâmide esta defende a transversalidade das decisões criando e estimulando os pontos de interacção. Isto que não as torna empresas horizontais entenda-se.

Atrás foi referida a especificidade do Japão enquanto pólo da 3ª revolução industrial e isso obviamente reflecte-se em toda a filosofia. Estamos a falar de uma economia estagnada ou até em recessão e não de uma economia pujante em fase de grande crescimento. Ora nesta conjuntura o KAIZEN alicerça-se na segurança dos pequenos passos seguros em detrimento de aventuras ou riscos. Não investe em rasgos tecnológicos mas sim em conhecimentos convencionais, até porque na lógica de interacção estes são mais facilmente assimilados por todos. E não funciona numa lógica orientada em função dos resultados mas sim dos processos pois são estes que asseguram os resultados a médio longo prazo.

Vamos tentar desenvolver isto mais um pouco de modo a que fique compreensível a todos. A função de qualquer empresa é sem duvida alguma a satisfação do cliente, então a 1ª objectivo é o QCD, Quality, Coasts and Delivery (Qualidade, Custos e Entrega no prazo) e para isso necessita de aplicar as metodologias correctas para cada caso como seja o caso do MUDA, (eliminação de desperdício) do GEMBA (acção sobre o local de trabalho), 5S's (metodologia de limpeza e arrumação), Visual Management, TQC (Totally Quality Control) MMK (eficiência dos meios produtivos), TPM (Totally Productive Mainetnence) ou o FLOW (Gestão de fluxos)

MUDA - o Desperdício pode ser de várias ordens

- Produção em excesso

Existência de demasiados materiais, quer matéria-prima, material em processo ou produto final.

Material mal transportado

Esperas, Pessoal a espera de máquinas materiais ou outros utensilios de trabalho

Fazer mais do que o cliente está disposto a pagar

Produzir sucata ou defeitos a retrabalhar.

Na gestão KAIZEN todo este desperdício deve ser eliminado

Gemba - Porquê da importância do GEMBA no Toyotismo. È aqui que o trabalho é realizado, é onde se acrescenta o valor ao produto, onde se pode e deve fazer a resolução dos problemas é onde estão os operadores, ou seja, as pessoas.

Qual é então a atitude KAIZEN em relação ao Posto de trabalho (GEMBA)?

Devem ser imediatamente verificadas máquinas e materiais, avarias defeitos ou situações perigosas. Devem ser imediatamente tomadas medidas temporárias até que se identifiquem as causas fundamentais para que s possam tomar contra medidas eficazes. Por fim a situação deve ser normalizada ou estandardizada.

Qual é então a atitude KAIZEN na relação das pessoas com o Posto de trabalho (GEMBA)?

O Operador deve dispor de tempo para poder efectuar melhorias no seu(s) posto(s) de Trabalho e para isso deve ser incentivado quer através do sentimento de confiança entre os estratos hierárquicos, ou através do reconhecimento do trabalho efectuado. Outra condição essencial é de que quem idealiza o GEMBA não pode de forma alguma ser mais importante que quem a opera pois ambos são parte integrante do Processo.

Como foi visto no quadro mais acima o Toyotismo é muita coisa mas parece-me que no que já foi explicado se pode tirar o sentido e a concepção das ideias que esta filosofia pretende atingir pois a sua principal novidade, no que ás relações pessoais diz sentido reside no conceito quer de posto de trabalho quer na redefinição de trabalhador e na postura e compromisso que um têm com o outro. Grande parte do resto da filosofia gira em torno disto.

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