quarta-feira, 15 de setembro de 2010

toyotismo

Aluno: Laudicir turma81


Toyotismo : Uma evolução de pensamento ou um modo de vida das novas gerações

Neste capítulo vou tentar abordar a parte mais conflituosa do tema Toyotismo. A pergunta que aparece no início não é apenas um título. É a meu ver aquilo a que se deve chamar o início de uma discussão. Isto por duas razões fundamentais. Será que á semelhança do Fordismo ou do Taylorismo o Toyotismo é apenas mais um modelo de produção industrial, ou será que já se tornou uma matriz de pensamento influenciador não só dos circuitos produtivos mas também da Educação, da Cultura, em suma, da nossa forma de estar perante a vida.

Senão vejamos, ao estudar um jovem adolescente e mais novo até é constantemente confrontado com o individualismo, a competição, o ser melhor. Por vezes parece que o espírito olímpico se tornou uma referência incontornável e inquestionável. Mais alto, Mais forte, Mais longe, são as palavras de ordem. È certo, e Psicólogos explicarão isso certamente melhor que eu, que é na Infância/Adolescência que se forma a consciência e o espírito do ser humano. O espírito individualista que é incutido no ensino que, tal como no mundo laboral e no Toyotismo em particular, vem disfarçado sob a capa de um espírito de equipa, de um "nós" muito próximo do "eu". O trabalho em equipa em que o "nós" está presente mas em que o ser individual é constantemente avaliado pela sua entrega, espírito e progresso.

Vejamos culturalmente. A chamada cultura de massas do sec XX, a televisão, não projecta, e continuamos a falar apenas dos escalões etários mais baixos, o conceito de grupo. Concurso de cultura geral para jovens em que sob a capa de um grupo escolar, cada ser individual é avaliado, censurado e reprimido pelo restante grupo. A sobrevivência do mais forte. Do "eu". Desenhos animados em que a luta é a história. Um herói que luta pelos outros, o "ele" em que cada "eu" se gostaria de rever. Em suma e não me alongando numa matéria em que não sou de todo voz abalizada, As pessoas crescem sem o sentido de grupo. Nada disto parece ter a ver com assunto em questão. Não teria se a ausência de sentido de grupo ou classe não fosse transportada para a vida laboral.

Esta é a primeira razão pela qual eu formulo a pergunta que dá título ao capítulo. Existe outra de peso a meu ver. E que está directamente ligada com a anterior. A relação "Eu" Consumidor v "Eu" Trabalhador.

Como suporte ao que vou tentar explicar escrevi um pequeno texto que penso vai ajudar a compreender o que quero explicar.

"O Zé e a Maria vão ser pais no final do ano. Nestas alturas que qualquer pai tem tanta coisa para fazer o Zé e a Maria não fogem a regra. Os planos são muitos. As fraldas começam a ser compradas com antecedência de 5 meses, não vá acontecer algo.

O Zé e a Maria já começam a fazer planos para o quartinho do bebé. A pintura, os móveis ... Hoje vão a uma loja e escolhem a mobília que gostariam de ter lá em casa. Mas não encontram exactamente o que querem. Faltam duas gavetas ao roupeiro e uma das prateleiras que lá está e desnecessária. A cama que tem gavetão é feia e a que eles gostaram não tem gavetão ainda por cima a cómoda que fica bem com a cama tem uns puxadores que não lembram a ninguém. O dono da loja ciente que a satisfação do cliente é o valor que realmente interessa, quer no produto, quer na realização dos prazos de entrega não olha a meios e oferece-se prontamente para realizar todas as alterações que o Zé e a Maria pretendem.

Os pais desejosos de verem a sua casinha pronta para a chegada do bebé, ainda que faltem quase 4 meses para que o rebento chegue, pedem a entrega das mercadorias para o domingo seguinte, pois é o único dia da semana que vão estar em casa, pois trabalham numa multinacional que trabalha por turnos e que emprega os conceitos de flexibilidade.

Nem o Zé nem a Maria se lembraram que era 5ª Feira e que os móveis ainda vinham de Paços de Ferreira. Não se lembraram porque não existe o hábito de nos preocuparmos com isso apesar de sermos diariamente vítimas de outros clientes, de outras mercadorias que querem as coisas o mais rapidamente possível.

As compras feitas, o Zé e a Maria vão para casa. Mas será que os empregados da fábrica de móveis irão."

Este texto é certamente um pouquinho lamechas, mas isto também não é um concurso literário. A ideia que pretendi passar foi a da dificuldade que temos em nos colocar na pele de outros, de trabalhadores iguais a nós, que sofrem e vivem diariamente as mesmas amarguras que nós. Escrevi á pouco que esta questão está interligada com a questão anterior, pois provem do mesmo egoísmo que nos é incutido quer na infância, na adolescência ou quando chegamos ao mundo laboral.

O "eu" consumidor é sempre colocado a frente do "eu" trabalhador como se de uma pescadinha de rabo na boca se tratasse.

A pergunta inicial mantém-se. Será que o Toyotismo é uma evolução de pensamento ou um modo de vida das novas gerações que se pode interligar com uma pergunta mais no início deste texto. Será que o capital evoluiu e ao criar novos modelos foi eliminando as resistências que foi encontrando no caminho até criar um modelo que para alem de laboral é também social. Aprendi ao longo da minha curta vivência que um texto de reflexão não tem forçosamente de conter respostas e este é um exemplo disso. Lanço duvidas e quanto mais caminho mais duvidas se me aparecem.

Um Caminho para um novo sindicalismo

Vamos neste capítulo partir de alguns facto que me parecem inquestionáveis. O movimento sindical atravessa uma crise sem precedentes na História. Esta crise tem alguns factores que me parecem óbvios. Como já foi explicado mais em cima o movimento sindical perdeu a sua vertente politica. Uns por decreto outros porque foram assimilados pela burguesia. Existe no entanto um terceiro grupo de sindicatos que não lhes aconteceu nem uma coisa nem outra. Pura e simplesmente tornaram-se estado e esses tinham a sua vertente politica. É o caso dos países do ex. Bloco de Leste em que um Partido dos "trabalhadores" detinha o poder. Durante muito tempo alguns sindicatos de Este, e portanto fora do bloco comunista, apesar de não terem poder politica tinham uma referência. Um objectivo a alcançar e um objecto com que se identificavam. É o caso de todos os sindicatos ligados aos Partidos Comunistas da Europa. Ora a queda do muro de Berlim retira quer o objectivo quer o objecto e torna o movimento sindical num enorme vazio.

É nesta fase que a meu ver os sindicatos europeus perdem o ultima pilar daquilo que os autores do manifesto Working Men Association definiam como sendo o Alpha e o Omega do sindicalismo ou da acção sindical. A sua vertente social, através de um afastamento da realidade e consequentemente da base.

A influência da ex-URSS é fundamental neste aspecto. Quando digo que durante o período ditatorial na ex-URSS os sindicatos de tendência soviética tinham um objecto e um objectivo não o faço só por constatar um facto. Faço-o porque o conceito que está por detrás de alguma ideologia me leva a isso. Pode parecer um pormenor de somenos mas o conceito de revolução ser feito com as massas ou para as massas é o ponto de partida para o afundamento de um movimento sindical forte. A ideia de um partido vanguarda líder das massas fazia sentido nalgumas cabeças até 1991. Para aqueles que após essa data continuou a fazer sentido foi o fim do movimento sindical. O que a sociedade procura neste momento é ainda um partido vanguarda mas que esteja com as massas em sintonia e colaboração.

Se calhar é importante que se definam massas neste momento. Penso que podemos caracterizar nesta sociedade Toyotista dois vectores chave. As massas não são um movimento uniforme, que se possam comandar. São seres que pensam individualmente e que podem estar organizados em pequenos grupos temáticos ou de interesse comum. O somatório dos vários interesses dá a massa. O 1º vector é o individualismo dentro de um grupo. O segundo vector que caracteriza as massas actualmente é o da competitividade que está ligado ao do individualismo e daí não fazer sentido a expressão do líder de massas. A massa é constituída, pelo menos é interiorizada assim pelos componentes por muitos líderes.

A primeira resposta que o movimento sindical moderno tem de dar é exactamente esta. Como sintonizar uma agenda que é por natureza divergente. Como congregar a volta da centralidade do trabalho as agendas dos vários grupos. Não falei sobre esta questão mas parece-me que na sociedade actual a questão do trabalho é central e deve assumir esse papel e é essa a segunda dificuldade do movimento sindical. Como na diferença marcar a centralidade do tema em respeito pelas diversas centralidades que andam a sua volta.

Quando estas questões forem resolvidas o movimento sindical recupera um dos pilares do sindicalismo. A força social.

Só que como aqui foi dito as massas são compostas por seres que pensam individualmente e que podem estar organizados em pequenos grupos temáticos ou de interesse comum. É certo que o movimento social não é uniforme a escala planetária. Em Portugal por exemplo temos uma fragilidade gritante a este nível. Aqui entra mais uma interrogação do movimento sindical. Como proceder perante esta realidade. Não me parece que seja boa "política" o querer assumir protagonismo fora de época. A atitude mais sensata é a de fomentar o aparecimento de uma consciência social ainda que por vezes nada pareça ter a ver com o mundo laboral, pois já assumimos a centralidade do trabalho atrás. Ser no fundo um irmão mais velho que aconselha, fomenta e que ganha apoios na sua causa que é no fundo a causa de todos. O movimento sindical foi sendo destruído ao longo de 200 anos. Não tenhamos a pretensão de o restaurar numa década.

Em relação a este ponto é de facto interessante estudar a experiência dos fóruns sociais de modo a se poder tirar ilações e em particular da experiência do Fórum Social Português.

A primeira conclusão que se pode tirar é que juntamente com o movimento sindical também os partidos políticos que se situam na esfera "ideológica" dos fóruns são abalados pela desconfiança e pela crise que a chamada sociedade civil tem em relação a estes. A atitude assumida por associações diversas em relação ás forças politicas é o espelho da realidade existente. Este exemplo é a meu ver a 1ª e a suprema razão para que assumamos no conteúdo o manifesto Working Men Association. A interligação dos valores sociais e políticos, senão vejamos. Existe uma crise de confiança entre as forças politicas e a sociedade civil, mas o movimento sindical é por vocação um movimento com uma grande componente politica e ao mesmo tempo um movimento social de massas que pela sua natureza poderá ser um congregador de agendas. Exemplos recentes não nos faltam e do qual queria realçar um em particular. O da ecologia ou ambiente. (não quero aqui ferir as susceptibilidades de quem acha que são, e bem, questões diferentes). Este é um excelente exemplo de como várias e diversas agendas se podem interligar e fazer trabalho.

Estamos então num ponto que quase poderíamos definir como ponto 0. Um ponto em que a influencia política é reduzida, a influencia social quase nula e em que a credibilidade está fortemente abalada. O que fazer? Penso que é esta a pergunta que nos devemos pôr partindo do princípio que partilhamos da análise feita ao estado quase decrépito a que chegou o movimento sindical especialmente á escala europeia. O Movimento Sindical vai ter de descer novamente á terra e largar a estratosfera em que tem vivido. Vai ter de saber ultrapassar muitos dos dogmas a que tem estado agarrado e modernizar o pensamento. Façamos um breve raciocínio, pois não sou de todo voz abalizada nesta matéria (como em tantas outras) mas vou tentar fazer-me entender. Desde o início do século XX quantas gerações já foram contabilizadas? Inúmeras. Quantas "revoluções" ou marcos culturais já ocorreram? Imensas. Quantas condições materiais, (transportes comunicações, ...) já evoluíram ou mesmo criadas? Um sem número. E o rol de enumerações poderia continuar. Agora pensemos em contraponto a quantos estigmas o Movimento dos Trabalhadores ainda está agarrado? Quantos fantasmas do passado ainda povoam os nossos pensamentos? Quantas práticas se mantêm há anos? Demasiados a meu ver. Há muitos que confundem o modernizar pensamentos equivale a dizer fazer cedências ao Capital. A meu ver nada de mais errado. Não se o virmos numa lógica de que o mundo mudou. Que o estudante já tem consciência de que será mais cedo ou mais tarde trabalhador. Que as lutas não se resumem ao local de trabalho ou á empresa. O movimento dos trabalhadores tem de compreender que a luta pela hegemonia tem de ir á educação e á cultura. Mais atrás tentei explicar que a grande inovação do Toyotismo foi a alteração global que quis e conseguiu introduzir a começar desde logo pelo conceito de trabalhador, alterando-lhe não só a denominação para colaborador mas alterando-lhe também a sua relação com o seu meio envolvente. Mas tal só foi possível alterando-lhe a sua vida quer na educação quer na cultura e aqui entenda-se a cultura no sentido mais lato possível, a tal ponto que muitos dos seus conceitos são hoje pacificamente aceites pelos trabalhadores, interiorizados e até defendidos. Parece-me que o movimento sindical ainda não se adaptou a esta nova realidade.

Como é fácil de perceber por esta última parte do texto não sou eu que vou ter as respostas para todas estas dificuldades, penso que ninguém as terá, mas há uma coisa da qual estou convictamente convencido. É que o Movimento Sindical não precisa de uma alteração de forma. Precisa de uma alteração de substância á luz das novas realidades que nos são apresentadas. Precisa de fazer com décadas de atraso a discussão que o Capital já fez e que já aplicou e da qual está a tirar resultados hoje e que se pode resumir de uma forma muito genérica na pergunta:

O que é preciso fazer para que se tenha a hegemonia cultural e qual a melhor maneira de educar as massas para que estas se tornem permeáveis aos nossos argumentos.

É esta questão que está posta na mesa. É esta a questão a que vamos ter de responder em 1º lugar. Não para lhe dar o uso destinado a subjugação de um ser por outro, como é feito pelo Capital, mas sim para podermos dar-lhe a forma necessária, para voltarmos a ter verdadeiros movimentos de massas capazes de se rebelarem contra o sistema uns pelos outros e não uns contra os outros.

Conclusão

Disse-o no princípio deste texto que ficou muito mais longo que o inicialmente previsto:

"Este texto não pretende ser um lugar de verdades. Este texto pretende abrir temas. Pretende abrir á discussão outras perspectivas para que daí nasça uma discussão sobre o caminho que deve ser trilhado por uma força de esquerda e socialista moderna como o Bloco de Esquerda pretende (e é) ser.

Se este texto provocar alguma discussão, já me sentirei um pouco realizado. Pelo menos parte do objectivo foi conseguido."

Não tenho a veleidade de ser um pensador, apenas alguém que se preocupa com o que se passa e que gosta de partilhar as suas dúvidas com os outros. Não espero que concordem comigo. Aliás, gostava que muitos discordassem a ponto de se iniciar uma discussão que como disse estar convictamente convencido ser central para o futuro da luta de classes.

Afinal não é da discussão que nasce a luz?

Daniel Arruda, Coordenador da CSHST da Autoeuropa, Delegado Sindical no Sindicato dos Metalúrgicos do Sul, Militante do BE

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