quinta-feira, 24 de junho de 2010

Nelson Mandela Idolo Da Africa !

Em 18 de julho de 1918 Nelson Mandela nasceu em Mvezo, no Transkei um dos Estados da África do Sul banhado pelo Oceano Índico. A região era agro-pastoril e sobre a infância Mandela gostava de dizer: “sou do tempo que a criança era educada pelo método de sentar, aquietar-se e apenas ouvir as conversas dos mais velhos”. Hoje é a criança ou o jovem quem mandam e é preciso chamar a “Super-Nani” ou a tropa de choque.

O pai de Nelson Mandela, Henry Gadla, tinha quatro esposas e treze filhos. Ele era descendente de Thembu, chefe de um clã dos Xhosa (pronuncia-se Kôza), um dos muitos povos locais da África do Sul. A formação de Mandela, dentro dos valores de respeito às tradições e autoridades fez com que ele adquirisse os hábitos de nobreza, educação formal e, acima de tudo, de profundo entendimento da “alma” sul-africana. Sem sombra de dúvida, vem daí o famoso charme de Mandela, que consegue ser tão natural comendo um braai (churrasco) com a mão, num bairro pobre como o Gugulethu da Cidade do Cabo, quanto bebendo cherry com a rainha da Inglaterra no Palácio de Buckingham.


Das biografias que pesquisei sobre Mandela, a que me pareceu melhor é a de Tom Lodge “Mandela a Critical Life” (Mandela uma vida crítica, Oxford University Press, 2006, 274p.). É claro, Lodge está longe de ser um Ruy Castro (com “Garrincha – A Estrela Solitária”, cuja versão em inglês não é um primor) ou mesmo um Fernando Morais (“Chatô – o Rei do Brasil”, a melhor maneira de se entender os alegres trópicos). Mas Lodge, que foi professor universitário na África do Sul entre 1978 e 2005 e agora está na Irlanda, cumpre seu papel com informações e comentários das biografias anteriores, se sustentando nelas na medida certa.

O nome de Mandela ao nascer era “Rolihlahla”, que significa “criador de caso”. Entrou na escola sabendo escrever e, por seu brilhantismo, acabou convivendo com filhos de famílias nobres, das quais aprendeu as regras do bom comportamento (admirava especialmente os ingleses neste quesito). No ritual de circuncisão, com 16 anos, já se destacava e foi batizado de “Dalibunga” ou “fazedor de parlamentos” (se o leitor me permite a tradução literal de “maker of parliaments”). O cara não é mesmo diferente? A maioria dos políticos faz o contrário: nasce como “construtor de democracia”, sai da escola sem saber ler, faz escárnio das famílias nobres e acaba como encrenqueiro.

A gente pode não acreditar, mas rituais de iniciação ainda ocorrem por aqui apesar das constantes campanhas governamentais contra esta prática. Em dezembro último, um jovem de 18 anos, Lunga Nocanda, morreu num destes cerimoniais. Ele ia entrar na Universidade. Acabou morrendo na selva, vítima de ferimentos, fome e sede.

Mandela afirmou uma vez que o ritual para ele funcionou, isto é, ele passou para a idade adulta, impressionando-se com as palavras do chefe da cerimônia: “Nós, os Xhosas, e todos os negros da África do Sul, somos um povo conquistado e escravos em nosso próprio país (…). Estes rapazes vão para a cidade beber álcool barato, pois não temos terra. As flores do nosso povo estão morrendo”. Apesar deste tradicionalismo, a educação de Mandela era permeada de formação cristã, pois sua mãe era metodista.

Em 1939, Mandela foi um dos 50 negros que entrou na Universidade de Fort Hare, uma instituição missionária. No início queria ser intérprete da corte, cargo fundamental numa época que muita gente não sabia falar nem o africâner, nem o inglês e precisava acompanhar longos processos judiciais. O envolvimento dele com política estudantil era sempre tentando se desvencilhar dos seus colegas radicais, como alguns, que em plena Segunda Guerra Mundial, achavam a Inglaterra tão opressora quanto a Alemanha. Mesmo assim foi expulso da instituição em 1940 depois que, eleito se recusou a assumir o cargo num Conselho Estudantil que, então, se mostrou uma farsa.

O jovem muda-se para Johanesburgo, na verdade Alexandra e depois Orlando, que fica no coração do famoso bairro de Soweto (curiosidade: Soweto é a sigla para south-west township, ou favela do sudoeste). Ele completa os estudos pelo correio em 1942 auxiliado pelo amigo, Sisulu que também o ajuda a empregar-se num escritório. Casa-se com a enfermeira Evelyn em 1944 e lembrando aquele provérbio “Se queres uma estátua, olha em volta”, começa a tornar-se celebridade em seu bairro, combinando status profissional com modos e relacionamentos aristocráticos.

Em 1943 entra para o ANC (Congresso Nacional Africano), o partido nacionalista que foi criado em 1912 e que atualmente, reina absoluto na África do Sul desde que foi trazido ao poder por Mandela na década de 90. Fez amizades importantes com esquerdistas influentes que então apoiavam o ANC, como o comunista Michael Harmel e o “africanista” Anton Lembede que se opunha as “ideologias estrangeiras”, pois as considerava perniciosas, já que para ele os africanos eram naturalmente predispostos à democracia e ao igualitarismo. Pobre Lembede….


No ANC, Nelson Mandela, Madiba para os íntimos, ajuda a fundar a liga jovem. Foi eleito em 1947 para o comitê executivo da província Transvaal do partido. Em maio de 1948, o Partido Nacional (dos brancos) chegou ao poder pelo voto (só para brancos) e por lá permaneceu 46 anos! Em 1950, já na Executiva Nacional do ANC, Mandela começa a organizar e às vezes liderar protestos, greves e desobediência civil (inspirada em Gandhi que, inclusive viveu na África do Sul) contra as leis racistas do apartheid como a necessidade de autorização para andar na rua (lei do passe), proibição de casamento inter-racial, entre outros absurdos.

Apesar de titubeante, o pensamento e os discursos de Mandela desta época, já eram de uma África para todos, não só para negros, como muitos de seus correligionários desejavam. O fortalecimento deste ideal deu-se pela influência de seus amigos leninistas que sustentavam que o principal inimigo eram os capitalistas ricos e não os brancos. Como é mesmo que se diz: “Deus escreve certo por linhas tortas”….

A década de 50 foi então marcada por inúmeros protestos, várias detenções de Mandela além de seu confinamento em Johanesburgo durante um período. Como nada surtisse efeito sobre o governo branco, Mandela e o ANC flertaram com atos terroristas e algumas sabotagens começam a acontecer com o apoio (não explícito) do partido. Em 1960 com as novas regulamentações do Estado de Emergência, o ANC cai na clandestinidade, Mandela queima seu passe com a presença da imprensa e é novamente detido. Na corte ele se mostrou por inteiro antes de ser preso por 27 anos e 6 meses.

Nome : Augusto Johann Tochetto

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